DA SÉRIE: ENSAIOS QUE NOS LEVAM A PENSAR
Subsérie: Despedidas
A CARTA DO POETA GERALDO XAVIER À ANFRÍSIO
A
propósito de um PREFÁCIO morto da “Crônica de uma cidade morta”, magistralmente
recusado pelo poeta Geraldo Xavier
Prezado
Geraldo, este teu texto da recusa é a tua cara…
1)ACDPGXÀA).
Dizem que somos o que pensamos que somos, mas, tem momentos em que acredito que
somos mais o que escrevemos do que o que pensamos e dizemos que somos, pois, de
vez em quando somos mais parecidos com o que escrevemos que com o que pensamos
que somos! No geral, escrevemos automaticamente e sem pensar, como se o que
escrevemos fluísse de nossa alma, tanto, que se todos pensassem no que iam
escrever, o mundo não estaria tão cheio de baboseiras e asnices. Um filósofo de
plantão e crítico tenaz dos escritores desprevenidos, mas, sinceros, escritores
estes, que as vezes escrevem coisas, que por serem a pura verdade fere a falsidade
e a hipocrisia dos que julgam que não deveriam ser escritas, pois, a verdade fere
o falso pudor das pessoas falsas. Esse, filósofo, às vezes, chamado
por si mesmo de filósofo, quis
argumentar com veemência, comigo, que meus raciocínios expostos naquela área do
saber estavam fora do contexto, aí, me vi obrigado a apresentá-lo a algumas das
38 maneiras de vencer uma argumentação “com ou sem ter razão”, do mestre A.
S., só assim me vi livre por uns tempos do tal filósofo de “botequim”. Creio que
ele já conhecia as argumentações erísticas do filósofo alemão, mas, pelo que
vi, não as tinha entendido bem. Na realidade este meu amigo é professor de
filosofia de uma faculdade daqui de Salvador, sendo muito inteligente. Mas, nem
por isso sou obrigado a concordar com ele. Nenhum argumento por mais razão que
tenha, pode nos tirar o direito de pensarmos e acharmos o que bem entendermos
sobre o nosso “Ser”. Se a filosofia em toda sua longa história tivesse chegado
a um consenso sobre o que somos como seres, ainda assim, não concordaria com
meu amigo e “filósofo de algibeira”. Portanto, afirmo que somos mais o que
escrevemos que o que pensamos que somos. Nada retrata mais a nossa alma ou
essência que a essência de alguns de nossos escritos. Aqui não fica implícito
nem mesmo de forma subliminar que as pessoas que nada escrevem sejam ninguém, pois,
somos mais o que guardamos dentro de nós, na forma de instintos e emoções que o
pouco que que exteriorizamos, em forma de escritos ou palavras. Todos nós
possuímos personalidades absolutamente, individuais, com áreas reservadas exclusivamente
ao nosso entendimento. Aqui não incluo aquelas pessoas que não escrevem, talvez,
por pensar que agindo assim, tornam-se anônimas e desconhecidas, pois é
impossível passar despercebido, esse agir as tornam ninguém mesmo, mais perante
a elas próprias que aos circunstantes. Assim, será sempre um direito natural do
homem escolher entre ser um ilustre desconhecido ou uma pessoa notória e
pública”.
(2)
ACDPGXÀA. Sempre que nosso amado e eternamente lembrado Geraldo Xavier aparecia
no beco, eu não o deixava sair, sem antes me contar as últimas travessuras do
“Robite”, que não pôde conter as lágrimas que “não possuía”, de tantas saudades
do Geraldo, nem pobre de mim, que não soube como contê-las, mesmo não as
possuindo mais, por já tê-las gastas com as agruras da vida. GX estas tuas bem
alinhavadas linhas escritas em um xis de um janeiro qualquer. Com certeza é o
retrato do teu espírito brincalhão, dotado de extrema perspicácia e sabedoria
no trato com as coisas do existir. Terminas a tua desaforada negativa de
escrever o prefácio dizendo: – e à sua irmã caçula, aquela gostosa. O que me
faz lembrar o epitáfio aposto no jazigo de um poeta de uma cidadezinha do
interior, escancaradamente brincalhão, que dizia assim: Tá rindo de que! Estou
te esperando aqui… O Geraldo nem deu trela pro tal prefácio, ele tinha e tem
razão de ter ficado tão indignado. Uma cidade morta!!!… Ora veja! Só queria
saber, (para dar umas porradas), quem é este escritor de meia tigela, que
queria impor ao criador de Robite a feitura do tal prefácio da crônica de uma
cidade morta, portanto, cheia de mortos, ou no mínimo, vazia de vivos. Creio
que você vai mandar-lhes o recado: Estou te esperando aqui.
3)ACDPGXÀA).
GX Fostes para o segundo andar na minha ausência, quem te autorizou? Pois,
quando o poeta e amigo Ricardo De Benedictis me avisou que tinhas pegado o
elevador, eu me encontrava em Salvador cuidando da saúde. Tu já fostes tarde!
Ou quem sabe, muito cedo… nunca saberemos… Quem foi que te autorizou partir tão
de repente! Não fique triste, não demoro muito por aqui, em breve estaremos
juntos articulando umas traquinagens por ai!!!… E falando do Robite. Se puderes
e te sobrar tempo, me avise se aí tem um Beco da Tesoura como o nosso, para
batermos uns papos.
4)ACDPGXÀA).
Tenha certeza, para mim foi uma grande honra te conhecer, sabe GX parece que é
minha sina conhecer pessoas maravilhosas por pouco tempo.
Meu
saudoso amigo Geraldo; não sei se o Anfrísio é tua criação, ou se é feito de
cabelo, pele, carne, osso, tutano e tudo mais, juro de pés separados que não
sei! Pois, as juras de pés juntos são feitas dentro dos envelopes de madeira.
T’escunjuro! Alma Panteriosa.
Minha
opinião é de que este teu breve texto seria um excelente Prefácio para o livro
“CRÔNICA DE UMA CIDADE MORTA” e como seria!
Em 21 de fev. de 2006
— O Romance UM OLHAR PARA TRÁS, de Geraldo
Xavier de Oliveira, foi o vencedor do concurso Zélia Saldanha
... Geraldo não foi, ele será eterno membro da Academia
Conquistense de Letras, ocupando a Cadeira nº 6, cujo Patrono é
o Poeta Castro Alves.
Do
mais humilde e sincero dos teus amigos dos teus últimos dias.
Edimilson
Santos Silva Movér
Salvador,
10 de janeiro de 2013
moversol@yahoo.com.br
A CARTA DO POETA GERALDO XAVIER, AO ANFRÍSIO - ENSAIO (53)