CARTA
A UM AMIGO, FILÓLOGO E FILÓSOFO
Caro Amigo:
Somos, com certeza, cada um “per se”, um Universo à
parte; se assim não o fosse, seríamos como nossos irmãos irracionais,
“individualizados”, mas com procedimentos típicos de manada, com ações e
atitudes grupais etc., em que, num milhão de indivíduos, ninguém se destaca,
salvo nos comportamentos instintivos, da reprodução e da sobrevivência. A igualdade mais marcante dos
seres humanos é exatamente a diferença inerente a cada
um. Quando encontrar muitos indivíduos iguais, defendendo os mesmos princípios
ou crenças, desconfie deles! Principalmente dos não questionadores,
pertencentes à grupos com as mesmas crenças religiosas, científicas, filosóficas ou políticas. Via de regra, são
fanáticos, com visão distorcida da realidade, mais parecendo habitantes da
caverna de Platão. A única esperança de cura para um fanático é rezar pela
próxima encarnação; com sorte, ele talvez escape deste pesadelo. Perdoe ter que
ser mordaz, mas nesses casos torna-se necessário ser duro. Impossível enfrentar
um exército de fanáticos com flores! Desconfio das multidões unânimes, pois,
nelas vejo algo que me cheira a “algo de podre no Reino da Dinamarca”. A única
“qualidade” da multidão é ser burra. Não creio que paire sobre a multidão o
“Master Mind”. Também não acredito na máxima de que toda a unanimidade seja
burra; os julgamentos unânimes nem sempre são burros; o caminho não é este. O
que leva os homens ao erro sempre são outros homens; desconheço o caso em que, ”intencionalmente”,
o cachorro levou o dono ao crime! Sei, e sei bem, que a união faz a força e que
o que nos fez progredir como espécie em evolução foi o instinto gregário. No
entanto, na minha individualidade, sou de comportamento arredio; isto vem da
minha natureza, do meu instinto, está no meu cérebro límbico; está no meu lado
zoo, e todos o temos. Não chego a ser tímido, mas não me sinto bem nas
aglomerações, principalmente nas reuniões sociais! Desconfio dos homens de
gravata! Se possível, leve um papo com um homem “desconhecido” e de short, na
praia, e, depois, com o mesmo homem no trabalho, já de paletó e gravata;
analise se por ventura são as mesmas pessoas! Acredito que deduzirá que não! É
muito comum a pessoa mudar em função do traje e do ambiente. Nada tenho contra
o paletó e a gravata, pois são somente dois pedaços de pano. No entanto abomino
o uso do “smoking” e da gravata (são mutiladores da personalidade). Claro que
estou tratando do homem comum, como a mim. Usei gravata uma única vez na vida;
mas tive quatro fortíssimas razões ou desculpas: era inexperiente, era jovem,
ia me casar e estava apaixonado. Neste caso, o instinto prevalece e tudo é
válido. Confesso-lhe! Nunca fui ao casamento de um filho, nem a uma de suas
formaturas; de vez em quando, um aniversário me pega de surpresa: somente de
surpresa. Também tenho outros defeitos ou qualidades; mais defeitos que
qualidades. Por exemplo: quando começo a escrever, me apiedo dos filólogos,
principalmente dos puristas. Por vários dias, fico imaginando! Camões (é o
primeiro que me vem à mente), não sei por que, mas só o vejo com os dois olhos
abertos, bem abertos; interessante, nunca o vejo manaio; Eça de Queiroz,
Antenor Nascentes, Rui Barbosa, de fraque, Humberto de Campos, um Antero do
Quental, sisudo, todos indiferentes à minha piedade; vejo-os sempre saindo dos
túmulos, em fila, andando em minha direção, de penas em punho, para me corrigir
ou me admoestar; são os meus fantasmas! Acho que vou tomar capricho e aprender,
pelo menos, os rudimentos mais elementares da “Fina flor do Lácio”. Assim
tomarei menos o seu precioso tempo.
Espero um dia ter a honra e o prazer de conhecê-lo e, assim, poder
usufruir de um (mesmo curto) bate-papo.
P.S.
Quanto ao seu não julgamento, não se
preocupe; a intenção de quem teve os “insights” é esta mesma,
(não ver os “insights” sob julgamento).
Por ter origem exotérica, é dirigido ao homem comum e, por ter natureza
metafísica, dispensa julgamentos de caráter científico-filosófico; a obra é
tão-somente a descrição dos “insights”, não tendo,
assim, cunho contestatório de nenhuma área do conhecimento humano. A
diversidade dos temas abordados pode ter me levado a algum erro conceitual; foi
minha intenção levar aos leigos, pelo menos de forma geral, pequena parte dos
conhecimentos já acumulados pelo homem. Espero não ter emitido conceitos
incompatíveis com os postulados da ciência oficial. As contestações da ciência
moderna, atualmente, são feitas na área da Relatividade Geral e da Física
Quântica, isto pelos próprios Físicos Teóricos. Quanto ao Professor de Física,
estou enviando um exemplar, para que você o encaminhe ao mesmo; ficarei agradecido
se ele puder fazer uma crítica e uma correção nos conceitos científicos
emitidos no ensaio; só queria que ele deixasse os conceitos cosmogônicos,
contidos em toda a obra, no que tange aos “insights”, intactos, como
estão, pois errados ou não, são frutos dos próprios “insights”. Mesmo porque; o
“mistério maior” está em qualquer ponto; e não num ponto específico do riacho
da montanha.
Veja bem!
O ponto de vista enunciado nas palavras
dirigidas aos meus familiares é abrangente e tem aplicação a todo o
relacionamento humano.
Com toda a admiração e o respeito,
do aprendiz de aprendiz de rabiscador,
Edimilson Santos Silva Movér
Camaçari
- Vila de Abrantes, 18 de agosto de 2003
moversol@yahoo.com.br
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