LEMBRANÇAS
ANTIGAS
Nossa avózinha...
Mãe Nenén
Gramerines,
Alcapote.
Mi Abuela
RECORDAÇÕES PERENES DE UM TEMPO
MARAVILHOSO E QUE JÁ SE FOI, A MAIORIA DOS PERSONAGENS QUE VIVENCIARAM ESTES
FATOS, NÃO ESTÃO MAIS AQUI, A ESTES, A MINHA IMORREDOURA SAUDADE, E O MEU
ETERNO RESPEITO. Movér.
Óh! Casinha lá do alto da Boa Vista, saudosas
lembranças eu tenho de ti! Foram tempos inesquecíveis da minha juventude. Lá,
tive meus dias de reflexão e solidão, quando todos estavam fora! No período em que Elomar estava na
faculdade em Salvador, todos sumiam, só permanecia eu e Mãe Neném. A pergunta, que todos fazem quando ainda criança! (O que estou fazendo aqui?). Esta pergunta, eu a fiz aos seis anos de
idade, na Rua Nova, (atual Otávio Santos), foi naquele momento e, ali onde realmente
me encontrei pela primeira vez como “Ser” material. Já, ali na casa de Mãe Neném
foi onde iniciei meu desenvolvimento como “Ser” espiritual.
Recordações 1
O tempo passou e o velho pé de Garapiá
se foi...
Passou também, o gato Faquir, o taboado
da cisterna, o sabugueiro, o lindo, saudoso e charmoso pé de Flor de Santo
Antônio. Só sei é que Santa Tereza tinha e tem razão! Tudo passa só Deus não
muda!
Quando Mãe Neném chamava o gato de
pichano, Elomar dizia: - o nome dele é Faquir Mãe! - Aí ela repetia como se
fosse para decorar, - Faquí, Faquí, Faquí, Faquí, Faquí, - ela não utilizava o
“r”, era muito engraçado, isto era. Ele passou a atender pelo nome de Faquir e morreu
com este nome.
Recordações 2
Numa manhã, e num instante inesperado, fomos
apresentados à frieza dos Correias, ao vivo...
Foram testemunhas: O pé de Flor de Santo
Antônio florido, o macio pelego de carneiro pintado de amarelo sobre o couro
branco, no taboado da cisterna umas almofadas sob as quais mantinha apoiada a
cabeça, eu lia, se não me engano Ricardo III, e lia em voz alta! Onde o Duque
de Roucester faz o anuncio do tema
da peça, assim: - ...[O inverno do nosso
descontentamento foi convertido agora em glorioso verão por este sol de York]...
- Mãe Neném passava sabão nuns panos de prato numa “bacilha”, com ortoépia
também ensinada por Elomar, que sentado num dos cantos do taboado da cisterna
dedilhava uma música de Tárrega ou a Astúrias de Albéniz no violão, (ou talvez, um exercício), não me recordo bem!
Quando despontou no passadiço a negra Adilina, (como era chamada), com seu deambular
oscilante. Mãe Neném observou! La vem Adilina com notícia ruim, só trás isso!
Realmente, Adilina ao se aproximar do pé de Garapiá disse ainda de longe, - Nenén Lulu morreu! Ao que Mãe Neném retrucou! - Antes ele do que eu! - A explicação de
Adilina veio a seguir, - não foi Lulu teu irmão não Neném! Foi Lulu de Zalinha,
- e Mãe Neném zangada reclamou Ah! Vem dar notícia falsa Adilina! - Ali estava
estampada com todas as cores a frieza característica dos Correias. Adilina,
podia até se chamar de Adelina, Mãe Neném só a chamava de Adilina.
Os moradores:
Estes eram os moradores habituais e
eventuais da casa de Mãe Neném.
Mãe Neném, Elomar, Gilson Figueira,
Chico, Dima, Lupin meu irmão, às vezes o primo Nevirton Correia, eu Movér, e João Ferraz, o (João Ming), e se alguém
disser que já passou uns dias por lá, podes acreditar! Os nossos primos e amigos
da cidade sempre nos visitavam e, de vez em quando, realmente, dormiam por lá. A
casa era uma verdadeira pousada, sempre tinha visitas. Tio “Ruru” sempre
passava por lá, nunca em busca de conforto, mais, por economia, pois, tudo era 0800.
Os frequentadores do “Ogar de Gramerines”
foram muitos, vou ver se consigo recordar o nome dos mesmos. Não sei o que foi
feito de um chapéu chamado Gardelito? Há pouco tempo vi seus contornos na Casa
do Médico.
Os frequentadores habituais eram:
Plácido Mendes, (Divão), Valter
Figueira, (tio Valter) Bonifácio Andrade (Bonifa), Vivaldinho (Lô), Evandro Mendes este,
só às vezes, Diassis Ferraz, Virgílio Figueira Brito (Ninha), Geraldo Brito
(Jade), Gilberto Gusmão (Giba), Jaimilton Gusmão, Eraldo Gusmão, Milton
Balaião. Vou consultar Elomar, pois, tem mais gente!
Recordações 3
Moradores permanentes:
A casa de Mãe Neném sempre foi bem
frequentada, principalmente pelos nossos irmãos animais. Tinha o gato Faquir,
as galinhas no quintal, o louro na sua gaiolinha, às vezes Mãe Neném o punha
sobre a porta da cozinha para ver a paisagem, teve a cobra gibóia que eu trouxe
de Milagres e que Mãe Neném soltou, com medo de que engolisse as galinhas, sem
falar nas pulgas, muriçocas, baratas, grilos escorpiões e afins, as cobras no
mato, ratos e as indefectíveis lagartixas “batixós” nos muros do quintal, calangos
e passarinhos comendo a comida das galinhas no quintal, no mangueiro havia
muitos pássaros e, de todos os tipos, sempre perseguidos pelo Faquir. Ainda tinha
umas caranguejeiras na despensa que de vez em quando davam as caras, depois
sumiam nas tocas, Elomar não queria que as matássemos, mas vez por outra uma
desaparecia! Mãe Neném as matava friamente! Ninguém observa, mas, num sítio
mesmo dentro da cidade, com mais de um hectare, tem tudo isso citado acima.
Como vizinha, tinha a Dona Luzia e sua
netinha, novinha ainda, linda de morrer, que morava ao lado na casinha de
aluguel, e a negra Adilina que morava próximo a entrada do corredor perto da
atual Rua Fernando Spínola. Era filha de escravos do nosso bisavô Joaquim
Correia de Melo. Diziam que ela, a Adilina foi mucama de Mãe Neném quando ainda
criança. Mãe Neném contava que quando chegou a notícia do fim da escravidão,
puseram ela, que ainda era "pequenininha", em cima de uma mesa pra ver os
negros dançarem.
O interior da casinha:
A casa era composta de três salas e três
quartos, uma cozinha, uma despensa e um banheiro. E um quintal murado de 8 por
15 metros. Havia um catre na primeira sala
junto a cozinha, e uma mesa do outro lado e as cadeirinhas, mais duas salas com
seus respectivos móveis, nem sei bem pra quê eles estavam lá, sem muita ou nenhuma
serventia. Tinha o quarto da Mãe Neném, na mesma dimensão dos outros, sua cama
era disposta de uma maneira, que mesmo ela estando deitada via toda
movimentação na sala, e sem levantar pedia as músicas de Corinto, a tio Valter
ou Elomar, para que as cantasse. No quarto da frente da casa, uma cama de casal, e uma
penteadeira, para que servia? Ah! Mãe Neném sempre esperava a visita das netas
casadas que de vez em quando apareciam. Ou
mesmo de alguma das filhas, menos tia Morena, ela não suportava o genro Mário
Guimarães, o mata leitões. Tinha uma penteadeira sempre enfeitada por “Mi Abuela”.
Mãe Neném sempre abria as janelas da casa, dizia ela, para o Sol entrar...
Lembro-me que sempre tinha um jarro com
umas flores do campo ou as cheirosas flores do sabugueiro sobre a mesa da sala.
O mangueiro de minha Avó tinha mato pra valer, já o quintal no fundo da casa
estava sempre limpo, ia me esquecendo! As galinhas bicavam o mato, e faziam a
limpeza. O telhado que sempre respingava fininho na gente quando chovia forte,
principalmente nas chuvas de verão, nessa época eram terríveis as noites. Ali
morava: Eu e Elomar permanentemente, Dima, Gilson, Nevirton, João Ferraz e
Chico ocasionalmente. Lá só morava solteiros e boêmios, ocasionalmente alguma
visita usava a cama de casal do quarto da frente, normalmente era usado pelos
boêmios da madrugada quando voltavam do “Papai” (O Papai era o restaurante
noturno do Tio Valter e era frequentado somente pelos boêmios e boêmias da cidade),
o “Papai” era de propriedade de Valter Figueira, este deve estar cantando até
hoje lá no céu, pedindo uma “pitadinha” de sal aos anjos, para limpar a voz.
No quarto do meio, duas camas de
solteiro e um guarda-roupa, sempre vazio, ninguém tinha muita roupa, só o
necessário, e às vezes nem o necessário! Por falar nisso teve um tempo de muita
falta de grana, o Elomar ainda era estudante de arquitetura e eu não tinha ainda
conseguido o emprego no DNER. Foi então que eu e Elomar abrimos uma lavanderia e
ganhamos alguns trocados, não me recordo o nome que pusemos na lavanderia.
Nossos fregueses habituais eram os primos ricos de Elomar. Teve a passagem de
um Boliviano por lá, era colega de arquitetura de Elomar, mais uma história a
ser contada, foi esse que chamava Mãe Neném de Mi Abuela.
A Cozinha:
Que relíquia era a cozinha da casa de nossa
Avó! Ela tinha um pote de barro, uma pia, um armário, duas mesas onde comíamos,
uma maior e outra menor, um baú recoberto de couro, e vários banquinhos, uma
despensa, a das aranhas caranguejeiras, e um montão de poesia espalhada por
todos os cantos daquela casinha, no piso de ladrilho de barro queimado em forno
de lenha, nas paredes caiadas, nas telhas, era poesia em todo lugar,
principalmente no ar, respirava-se poesia por todos os poros e, a sentíamos com
todos os sentidos. As melhores músicas do tempo de rapaz de Elomar foram
compostas na casa de Mãe Neném. E justamente na cozinha. Talvez por ser
quentinha, Elomar ficava até altas horas da noite, isto, em tempo de inverno
compondo na cozinha de Mãe Neném. “Faz um café pra nós Mau”, outras vezes ficava
na sala, no catre. À noite nunca deixávamos a porta da cozinha aberta. Havia o
perigo real de cobras entrarem na casa, a casa de Mãe Neném ficava dentro de um
mangueiro com pasto e mato. À noite quando fazíamos alguma cantoria, (Mãe Neném
era boêmia e saudosista por natureza), sempre pedia especialmente a tio Valter
para cantar as músicas de Corinto, irmão falecido de tio Valter e tio de Elomar
e Dima. E no centro da cozinha, bem centrado no sentido norte-sul tinha um reizinho.
Era Carvãozinho o Monstro, (nome também posto por Elomar), era um fogão a lenha,
que desobedecendo todas as leis da física funcionava que era uma beleza, era
tão bom que nunca entupia a chaminé, coisa comum em fogões a lenha, nunca
pifava, salvo raros e eventuais retoques feitos por um pedreiro amigo de Mãe
Neném, a tiragem era perfeita, não fazia fumaça, nem nada, só cozinhava, “nunca
foi pro conserto”, foi feito errado, este fogão tem muitas histórias, foi nele
que Gramerines acendia o fogo pela manhã queimando as páginas dos cadernos com as
poesias que Elomar fez quando ainda jovem. Elomar só descobriu quando tudo
tinha virado fumaça. Gramerines é um dos apelidos carinhosos que Elomar tinha
pra Mãe Neném, é a contração ou junção de Grand-mère, Elomar chamava a Avó de
várias maneiras. Sempre amorosamente! Mi Abuela e Alcapote eram outros. E ao
que se percebia ela gostava. Era chique!
Outros detalhes:
Do lado de dentro e do lado fora da
casinha havia no ar, um quê de poesia, tinha poesia por todo lado, do lado de
fora tinha o visual da casinha pintada de branco, com suas janelas sempre
pintadas de azul, tinha a porteira, o passadiço do (Olha o porrete Chico!) o pé
de “Flor de Santo Antônio” (Boungainville). E o velho e saudoso pé de Garapiá ,
a inesquecível vista para o Aguão, na baixada de Conquista, (o mesmo Aguão que
se apaixonou pela Serra do Periperi). Do lado sudoeste tinha a casa do Senhor Acelino
Pires de Andrade, de saudosa memória, tio de Elomar e pai do Dr. Josué Andrade
do Hospital Samur. Foi nessa casa que o Elomar nasceu. Pois, antes era a sede
da fazenda do seu avô materno o Senhor Virgílio Figueira. Ali era a famosa sede
da fazenda Boa Vista. O Hospital Samur foi projetado por Elomar e construído
nas terras da fazenda Boa Vista, bem próximo à antiga sede onde Elomar nasceu! Das
figuras humanas que por esta casinha passaram, a mais singular e importante foi Dona
Odília Santos Melo (Dona Neném) filha do Coronel Joaquim Correia de Melo e de
Dona Raquel Santos de Andrade Melo, esta, era filha de Dona Ana Angélica (Sinhazina
Santos) e do Sr. Manoel José Dos Santos Silva (Tenente Santos). Dona Raquel, nossa bisavó era neta do famoso
Padre Andrade. No passado, o Coronel Joaquim Correia de Melo foi um importante político
e fazendeiro da região foi o primeiro Intendente da República, (prefeito), de
Vitória da Conquista, isto em 1892-1896. Mãe Neném em sua juventude, dizem que
era a moça mais bonita da cidade, na casa tinha um retrato dela quando jovem
comprovando isso, depois dela vem o Elomar Figueira Melo, seu neto, arquiteto, cantor,
músico e compositor, atualmente conhecido no Brasil inteiro, e boa parte do
mundo, sendo o menos importante este humilde imitador de escriba que recorda
estes fatos se não aos prantos, mas com inenarrável, imorredoura e imensa saudade.
Recordações 4
Nos tempos da casa de Mãe Neném, não foi
só música, poesia e serenata não. Principalmente Elomar e eu, nesta época
devorávamos com avidez os filósofos gregos, os renascentistas e os contemporâneos,
lemos a Odisséia e a Ilíada de Homero, os pensadores da igreja, Santo Agostinho,
Loyola e São Francisco de Assis, os poetas clássicos o romano Ovídio, e o
italiano Petraca, ali conheci a obra de
Cícero, (os discursos) etc. Ganhamos de presente do Bonifa, Os Lusíadas de Camões,
lemos os poetas parnasianos, franceses portugueses e brasileiros, eu muito
voltado para a ciência, nestes tempos fiz meus primeiros contatos com a física
relativista e quântica. Foi quando descobrimos um universo muito maior que o nosso
entendimento e, e um universo em expansão! Foi nessa época que tivemos ideia da dimensão da
nossa galáxia, na poesia lemos Raimundo Correia, Fagundes Varela, Olavo Bilac,
Gonçalves Dias, Conhecemos o Junqueira Ayres, Fernando Pessoa, o Augusto dos
Anjos, Castro Alves, Albino Forjaz Sampaio, tivemos nossos primeiros contatos
com Kant, com Espinoza, Hegel, Nietzsche, Schopenhauer, Montaigne. A maioria
destes livros eram de Adalmária Carvalho, estudante de Direito, na época namorada
de Elomar, depois, noiva, depois esposa. Quanta saudade deste tempo. Nunca
compramos um livro, parte do que líamos era emprestado das casas dos primos
ricos, Elomar os tomava, eu era o encarregado de devolvê-los.
Nestes tempos ocorreram fatos que
merecem ser recordados:
Recordações 5
Numa noite de inverno, “as noites de
inverno eram muito frias”, quando voltávamos de uma noitada lá pras bandas do
“Papai” o Dima como sempre estripulento, propôs e resolvemos fazer o seguinte: Enquanto
Elomar e Gilson seguiram para a casa de Mãe Neném com os violões, eu Dima e
Chico passamos pela casa de Vovó Maricota para apanharmos uma cantora, pra
preparar na casa de Mãe Neném e comermos lá pela madrugada, nenhum de nós
tínhamos um vintém pra fazer uma boquinha na rua, era plena época das vacas
magras, e bota magreza nisso, assim, passamos pela casa de Vovó Maricota,
pegamos a cantora no poleiro, Chico a pôs com o pescoço debaixo da asa e
debaixo do paletó, para a mesma não denunciar o afano, e partimos pra casa de
Mãe Neném. Em lá chegando, acendemos “Carvãozinho o Monstro”, tomamos umas e
outras, Elomar, Chico e Gilson cantaram algumas canções enquanto eu e Dima preparava
a penosa. Como a noite não era mais criança, pois já estava perto da madrugada,
resolvemos usar uma panela de pressão, presente de uma neta de Mãe Neném, de
passagem para Brasília ainda em construção. Não tínhamos pratica com tal
novidade, pusemos a Dalva de Oliveira na dita panela com todos os temperos,
óleo e, com bastante água, e a pusemos em cima de “Carvãozinho o Monstro”,
ocorre que o sono de boêmio é mais ladrão que cigano, e todos pegaram no sono,
lá pelo raiar do dia acordamos com o apito da panela, acordamos sobressaltados
abrimos a panela para ver a Dalva de Oliveira que nessa altura já tinha virado canja, toda a carne tinha
soltado dos ossos e virado uma sopa, foi a sopa de galinha mais gostosa que já
comemos em toda nossa vida, e a comemos com farinha e pimenta, que gostosura! E
esta foi a opinião geral. Tem outras! Da turma toda o mais estripulento era o
Dima, era o Dom Quixote da turma, era apaixonado pela sua Dulcinéia do Toboso, sendo
meu primo e irmão de Elomar.
Recordações 6
De certa feita estávamos numa cantoria
no “Papai”. Eu e Dima resolvemos vir pra casa mais cedo pra comer alguma coisa,
era no tempo das vacas magras, nunca vi vacas magras que durassem tanto, devia
ser um rebanho enorme! Como dizia, voltamos eu e o Dima na frente, ficando
desta feita no “Papai” o Elomar e o Chico (Israel Silveira). Dima me chamou para
aprontar uma com o Elomar e Chico, Chegamos primeiro na casa de nossa Avó,
vestimos vários paletós, um sobre o outro, pusemos chapéus, nos postamos nas
proximidades do passadiço na entrada do mangueiro, a casa de Mãe Neném era num
terreno grande de mais de um hectare, o passadiço ficava a quase cinquenta metros
da casa, nos postamos um pelo lado de dentro e o outro pelo lado de fora da cerca do mangueiro,
dentro do corredor, portando cada um uma tranca de janela como cacetes, quando
Elomar e Chico se aproximaram levantamos as trancas e partimos pra cima deles,
foi quando Elomar gritou “olha o porrete
Chico”, ai não aguentamos e foi um riso geral, Elomar nos admoestou dizendo;
Vocês arriscaram a vida! Tio Valter ainda quis me emprestar o Negrão de Lima,
que era o 38 de Tio Valter, o que poderia ter sido uma tragédia.
Recordações 7
Tem mais, o Chico sempre aprontava umas,
de certa feita fomos fazer uma serenata no bairro Jurema para uma namorada de
Bonifa ou do Divão, não sei bem ao certo,
quando na volta faltando uns cento e cinquenta metros para chegar na casa de
Gramerines, o Chico caiu no chão “estrebuchando” e gemendo baixinho, o Bonifa
ainda era estudante de medicina, não sei em qual ano, fez um exame rápido em
Chico e disse a pressão tá normal e ele está respirando bem, vamos levá-lo pra
casa de Mãe Neném, deve ser coma alcoólico! Os carros estavam distantes, em
frente à casa de Mãe Neném, Chico sempre foi pesado, aí quase pelos oitenta
quilos, foi transportado com alguma dificuldade, nos braços, por Gilson,
Bonifa, Elomar, Diasis Ferraz e pelo Divão,
eu e Dima íamos na frente com os violões e a última garrafa de cachaça e uma lanterna
clareando o caminho para que os
paramédicos não caíssem com o “doente” nas valetas existentes no caminho, valetas que
não permitia a passagem de veículos, depois de muito sacrifício chegamos com o Chico
e abrimos os varões da porteira da entrada, foi quando Chico pulou no chão sorrindo correu
e gritou (muito obrigado pessoal), todos correram atrás pra dar uma sova em
Chico que caiu no mato e só apareceu depois dos ânimos serenarem, depois, foi
uma risada só!
Recordações 8
Fatos hilariantes e curiosos se passaram
na casa de Mãe Neném, uma história famosa é a história do cortado de maxixe,
vamos a ela! Certo dia estando no “Ogar” Elomar, Dima, Mover e Gilson, na hora
do almoço Mãe Neném nos chama para almoçar, como sempre fazia, ela pôs o almoço
na mesa maior da cozinha e ela foi almoçar numa outra mezinha onde ela
costumava almoçar quando tinha muitos comensais na outra mesa, neste dia foi
servido, feijão, arroz, macarrão, carne picadinha, verdura e um cortado de
maxixe, do qual ninguém tocou, não foi nada combinado foi tudo sem maldade, só sei
que o cortado de maxixe ficou intocado, à noite na janta voltou o bendito
cortado, novamente ninguém tocou, também sem combinar nada, simplesmente o
cortado voltou intacto. No outro dia no almoço apareceu uma frigideira na mesa,
alguém levantou a parte dos ovos em neve e, olha lá debaixo o cortado de
maxixe, novamente sem ninguém dizer nada a frigideira voltou intocada, aí já
teve alguns comentários e alguns risos a respeito da transformação do cortado
em frigideira! Só isso, e nada mais. No jantar deste dia, todo o pessoal já
alertado, notou que havia uma farofa na mesa que logo à primeira vista
descobriu-se que era nada mais nada menos que farofa de maxixe, ele mesmo o
recusado, aí ninguém tocou mesmo e chegou a ser questionado! Será que Mãe Neném
está querendo nos vencer pelo cansaço? No outro dia no almoço não é que Mãe Neném
tornou a servir o já antiquíssimo cortado de maxixe ainda como farofa, e desta
vez também ninguém tocou na múmia do maxixe. Neste mesmo dia, na parte da tarde todos
fomos pra rua e voltamos já de noite e roncando de fome, era o tempo das vacas
magras e que nunca acabava o rebanho! Aí,
Mãe Neném sempre ardilosa nos aprontou uma, simplesmente ao chegarmos ela foi
logo avisando. Hoje não tem janta não, tem é uma sopa rica, (feita com tudo que
sobrou do almoço), e lá dentro da sopa descobrimos para nosso espanto a
presença do maxixe, vestígio do antiquíssimo cortado de maxixe que tivemos que
comer com nosso orgulho e tudo. Mãe Neném era única! Venceu pelo cansaço a
todos nós! Nada sei da passagem do Lousada (o boliviano) que chamava Mãe Neném
de “Mi Abuela”, e a casa de “Ogar de Gramerines”, esteve por lá num período em
que eu estava ausente, creio que na fazenda de tio Nenenzinho.
Recordações 9
Na época a fome por poesia era tamanha
que chegávamos a ir pras bandas das Caatingas distante 20 quilômetros de
Conquista, passando por Iguá para cantar vendo o por do sol mais lindo do mundo, e que
naturalmente está lá até hoje! Deslocava uma verdadeira caravana até as bordas do
alto das Caatingas, na estrada de Angicos a Belo campo, onde o Sol se punha à esquerda
da direção do oeste, no verão o entardecer é lindo de morrer! Íamos somente
para ouvir Elomar, Chico tio Valter e Gilson Figueira cantar, quando escurecia voltávamos
direto para a fazenda do Divão, ou para o Angicos, para o bar do saudoso João Bunda e a
cantoria continuava até altas horas da madrugada, ou até o dia raiar. Na venda
do João Bunda, não sei quem foi o primeiro, criou-se o costume de: depois de
algum tempo de canto, bate-papo, e quase no fim da cantoria, os participantes
rolarem no piso de cimento da venda do João Bunda, o que ficou conhecido como
(Clube dos Roladores), este clube ficou famoso na cidade! Todos que faziam
parte das cantorias no Angicos rolavam sem o menor pudor, e com prazer!
Vou elencar a turma de roladores, como
registro histórico, Eu, Elomar Figueira, “Israel Silveira, Chico”, Gilson Figueira,
“Edimar Figueira, Dima” Divão Mendes, Dr. Bonifácio Andrade, Diassis Ferraz,
Vivaldinho Mendes, Vivi Mendes, Dr, Cana
Brasil, Ninha Brito, Geraldo Brito, Valter Figueira, “Gilberto Gusmão, Giba’ Jaymilton
Gusmão, Milton Balaião, João Ferraz, Ming, Evandro Mendes, falta gente, depois eu
completo a lista.
Edimilson Santos Silva Movér
Vitória da Conquista, 29 de outubro de
2006
Atualizado em julho de 2016
77-99197-9768
Em 2007 fiz esta poesia em homenagem às
pessoas que participaram daquelas noitadas, e principalmente em homenagem à
eterna lembrança da nossa avó, Odília
dos Santos Melo, Mãe Neném, avó minha, de Elomar, e de Dima, mas era tratada por todos, como se fosse sua avó.
MAIS LEMBRANÇAS ANTIGAS
PARA
NOSSA AVÓZINHA, MÃE NENÉM
LEMBRANÇAS
DOS TEMPOS GRAMERINIANOS.
Bacilha!
Bacilha! Bacilha! Vem comer! Meninos...
Odília dos
Santos Melo,
Mãe Neném,
Gramerines,
Alcapote.
Recordações
antigas, oh! Sonhos fugidios...
Distantes
madrugadas de poesias e canções,
Revisitar
estes caminhos, eis meus desafios,
Todos me
trazem velhas, e saudosas visões...
Poetas
bardos, cantando nas noites amigas,
“El
caminito” solitário, e Mãe Neném a sorrir,
Elomar,
Gilson e Chico e as canções antigas,
Saudades de
ti “PAPAI”, no teu triste partir...
Tardes de
belezas infinitas... Na boca da caatinga,
Oh! Angicos,
dos velhos tempos dos roladores.
“Mi Abuela”,
poesia, canções e a melhor pinga,
Lembranças
vivas, saudades de velhos amores...
Lembranças
do Mongoió, do Giba Gusmão,
Sorri o
Jaimilton, o Tiãozinho e sua galhardia,
Rolar lá no
Angicos, ou na fazenda do primo Divão,
Tardes
imorredouras, lá na caatinga, no final do dia...
O tempo se
desfaz na mágica do abracadabra,
Movér,
Gilson, Dima e Ariosto, na fase romântica!
Beco de
Sabina, a arquitetura, tua nova namorada,
Poesia,
filósofos gregos, música e física quântica,
Elomar e o
violão, Chico e Gói, três cantores,
Vivi, Ninha,
Jade, o Gordo e o Diassís Ferraz,
Bonifa, só
pediam Sidérea, ávidos de amores...
Milton
Balaião com seus tições, uma guerra faz!
Mãe Neném
alegre, pedindo a música de Corinto,
Uma pitada
de sal, tio Valter em falsete a atendia,
Daria minha
vida para voltar atrás, é isto que sinto!
Altas
madrugadas chegando da rua, quanta poesia...
Velhas
expedições, veem-me em lembrança abrupta!
A boia de
pneu, o poço da Pratinha meio assombroso!
Tio Bilu,
velho valente, sonhava em entrar na gruta!
Na Kombi, a
raiva contida, “páraaa! Estou parôôôôso”!
A sua
carroça, e os ovos da galinha do João Bunda,
O velório do
Anjo, a ladainha e a dança, lá no final,
A expedição
aurífera, a labuta lá na gruta funda,
A beleza da
poesia, a nave, como tua cova sideral...
“Gardelito”
em noites de cantoria lá no “PAPAI”,
Saudade
imensa, dos antigos tempos do garapiá!
Oh! Nave
espacial, negrão de lima, me desculpai,
Beco de
Luzia, olha o porrete Chico, vi arrepiar...
O taboado da
cisterna, o gato Faquir mia na cozinha!
O Louro na
porta, Alcapote, e as poesias queimadas!...
O aluguel do
pasto, aquela casa, e a nossa Avózinha!
Saudade
infinita, daquelas belas e benditas madrugadas...
Edimilson Santos Silva Movér
Vitória da Conquista, Bahia - 15 de abril
de 2007
LEMBRANÇAS ANTIGAS - MÃE NENÉN - PROSA E POESIA (96)fcw