09 Tredécimo ensaio
O RECÔNDITO DO
"SER”, OU A MENTE HUMANA
A memória e a ressonância mórfica
sob uma abordagem
não mecanicista.
E uma transcrição “ipsis litteris” de
um artigo de Rupert Sheldrake
1* O que é
realmente a mente humana? Nossa essência seria nossa mente? Ou, conforme
Martin Heidegger, a mente seria a essência da essência do “ente”, ou o “isto
é”? Este é o maior mistério existente no Universo! Nunca recebeu de nenhum
ramo da atividade intelectual humana qualquer resposta que viesse dar uma
consistente e razoável definição do que seria o “ente”, ou o "Ser”
pensante. As perquirições são muitas, e as respostas concludentes nunca
conseguiram ultrapassar o número zero, tal, é o tamanho do mistério que cerca
esta fugidia e estranhíssima criatura chamada "Ser". Debalde a
filosofia o tentou! A dificuldade é tamanha, que até hoje com todo o
desenvolvimento que atingimos em setores como neurologia, psicologia e
biologia, em suas áreas ligadas à pesquisa científica da memória do
"Ser", não conseguimos descobrir nem mesmo a sua morada e, assim,
não se chegou a nenhuma resposta concludente.
2* Quem mais
avançou na área de pesquisa foi a biologia e, assim mesmo, esta ciência tende
a crer que o "Ser", ou “ente”, mente, pensamento, identidade, eu,
personalidade e, pasmem, inclusive a nossa “memória” não residem nos nossos
neurônios. É de atordoar, se não residimos em nosso cérebro, onde residimos,
então? Será que o “Ser" não está dentro de nosso corpo? E, na realidade,
o nosso corpo é que está dentro do "Ser"? será que é o “Ser"
que nos envolve e nós sejamos, na realidade, nossas auras? Esta proposição é
de difícil compreensão e aceitação. A biologia caminha serenamente, e
provavelmente vai no futuro resolver este impasse. Depois de 1981, com o
advento da teoria da Ressonância Mórfica intuída e proposta por Rupert
Sheldrake, tende-se a acreditar que nossa memória não tem residência fixa em
nossos neurônios. Sempre acreditei que, à medida que o conhecimento ou a
ciência do homem se desenvolvesse nessa área, o mistério tenderia a aumentar!
É de enlouquecer! Debalde a filosofia tentou resolver o mistério e nunca o
conseguiu! A psicologia e a psiquiatria são ciências irmãs, a última sempre
tentando achar o caminho da cura para um "Ser" extremamente
abstrato e inefável, as duas sempre andaram no escuro, no âmbito destas
ciências, nesse âmbito há mais questões por responder que respondidas, pois
as duas lidam com a maior complexidade do Universo, chamada “Ser”. O interessante
é que, à medida que estas ciências evoluem, o mistério aumenta. O que
acontece é que o número de questões a serem respondidas simplesmente aumentam
a cada passo evolutivo destas ciências: as velhas como as novas perguntas
nunca são respondidas, daí! As novas perguntas somam-se às velhas, e o
mistério só tende a aumentar! Finalmente, eis que aparece alguma esperança de
elucidarmos o mistério maior e talvez num futuro próximo possamos responder à
pergunta – quem somos nós? – com a teoria da Ressonância Mórfica. Após a
descoberta (no primeiro quarto do século passado) da Física quântica,
considerada a mãe de todas as ciências, as questões pertinentes à pergunta –
quem é o "Ser?" – tornaram-se ainda mais difíceis de serem
respondidas. Será que a física quântica calou a filosofia para sempre? Tudo
que a filosofia disser sobre o “Ser" será, no mínimo, inconsistente,
inadequado, inabilidoso e, com certeza, errado. O "Ser", sob uma
abordagem quântica, simplesmente não existe. Durma-se com um barulho deste e
diga que tem dormido bem! Fundamentando-se nesta contextualização, este
singelo ensaio, em princípio, também está impossibilitado de elucidar a
questão e deve ser considerado como uma propedêutica do tema. O que posso e
pretendo fazer é deixar de lado o que a religião e a filosofia pensam sobre o
assunto e direcionar o enfoque para as últimas proposições que uma pequena
parcela da biologia tem tentado divulgar como postulado maior da ciência da
vida. Portanto uma abordagem sistêmica e holística de um assunto que até hoje
é tratado pela ciência de forma atomista e mecanicista! Este ensaio terá,
como suporte um caráter estritamente semiológico.
3* Depois da
descoberta de que o Universo evoluiu a partir da "indefectível"
singularidade que continha em si um Universo energético anterior ao Big Bang,
ficou assente que a evolução é inerente ao próprio Universo. Podemos aceitar
então de forma natural que, se o Universo evolui, tudo que nele é contido é
passível de evolução, inclusive suas leis físicas! A grande e maior verdade
que nos trouxe a teoria do Big Bang é que o Universo evolui. O postulado da
teoria de um Universo em expansão comporta a priori o conceito de evolução. Eis a nossa esperança de
elucidar o mistério! Rupert Sheldrake é um cientista e filósofo, não sei se
mais filósofo ou mais cientista, que tem escrito e feito conferências que são
levadas ao conhecimento de todo o mundo através de seu site na net www.sheldrake.org/. Este
site é muito conhecido e lido no ambiente acadêmico, sobretudo no mundo
científico da alta pesquisa teórica da biologia. Este pensador vem divulgando
uma ideia que, embora não seja nova (as suas bases foram lançadas em 1920
pelos biólogos), é inusitada, por conter em si um enfoque novo e que tem
causado furor no mundo científico. A parte da população não ligada às coisas
da ciência passa ao largo sem nada conhecer a respeito dessa ideia. Para uma
pessoa totalmente leiga em morfogenética, a teoria de Rupert Sheldrake tem
mais cores de misticismo e metafísica do que mesmo cores de ciência, no
entanto a abordagem que ele faz é extremamente e estritamente científica. A
essência de sua teoria, os místicos e as religiões orientais sempre a
pregaram, certamente com outras palavras, mas sempre o fizeram. Na sua
essência, o que prega o biólogo é que o Universo é fruto da evolução, é vivo
e pulsante e, o mais importante, o Universo possui memória, tudo que sofre
modificação ou se desenvolve tem memória: os cristais, as plantas, os
animais, o homem, é obvio que tem, mas o que ele apregoa é que todos os seres
vivos possuem memória desde quando óvulos, inclusive as sementes. Uma semente
de Cedro sabe que é um Cedro e cresce como um Cedro. Uma semente de Jacarandá
não se desenvolve como um Pau-Brasil, uma semente de Pimenta crescerá sempre
como uma Pimenteira. Só entenderá esta proposição quem se aprofundar na
teoria. À sua teoria, ele deu o nome de “Teoria da Ressonância Mórfica".
Em 1981, ele publicou o livro (A New Science of Life), Uma Nova Ciência da Vida, que, na época, causou muita polêmica,
foi pouco compreendido, mas, com o passar do tempo, a biologia teórica
absorveu a sua essência e tudo se acalmou. Na época, a revista “Nature” o classificou como um forte
candidato à fogueira; por outro lado, a revista “New Scientist” o considerou como "uma importante
investigação científica a respeito da natureza da realidade biológica e
física". A teoria não é nova, o enfoque e a abrangência que Sheldrake dá
a sua teoria é que são novos! A visão de mundo da maioria dos biólogos
ocidentais ou mesmo de todos os países é atomista, materialista, reducionista
e mecanicista. Para os biólogos que têm este tipo de Universo como real, e
como seu Universo existencial, é extremamente difícil perceberem o mundo
holístico proposto por Rupert Sheldrake na sua teoria da Ressonância Mórfica.
Desta extrema dificuldade de perceber é donde advém a demora e a
"lerdeza" da teoria ser absorvida e aceita como uma verdade
axiomática universal. Talvez passe vários séculos para que uma teoria com
estas proposições possa ser aceita “como disse”, como uma verdade aceita pela
ciência como tal. A não aceitação das teorias sobre conceitos abstratos
imateriais provém da dificuldade ou da impossibilidade da comprovação da
teoria por experimentação laboratorial. O máximo que se consegue é, em última
instância, a análise dos resultados oriundos de fatos não experimentais.
Estas análises frequentemente são admitidas como frágeis e inconsequentes.
Tenho um amigo biólogo, formado por uma faculdade de Salvador, morador de
Vilas de Abrantes, que quase se desentende comigo quando expus a teoria do
Sheldrake. A salvação foi um professor do curso de biologia, que era versado
em biologia molecular, e que possuía conhecimentos de Física quântica e já
conhecia a teoria da Ressonância Mórfica. O professor conseguiu acalmá-lo,
fazendo-o ver que a teoria existia, mas ainda estava sob judice, e que tudo que ele tinha apreendido no curso de
biologia continuava válido. Desde o princípio, notei que sua resistência em
aceitar esta nova proposição do Sheldrake se prendia ao valor que ele dava
aos conhecimentos adquiridos no curso de biologia. Com certeza, haverá muita
resistência e grandes dificuldades a vencer para universalizar estes novos
conceitos. Mesmo as universidades de pouco ou de nenhum renome fogem desses
temas ainda não totalmente aceitos como verdades universais, temendo o
descrédito e mesmo o ridículo em que incorreriam ao ensinar assuntos tão
controversos. Com certeza, Rupert Sheldrake escapará da fogueira, mas, pelo
menos durante este século XXI, "com certeza" não receberá um prêmio
de peso como o Nobel, embora sua descoberta valha mais que isso. Sua teoria é
tão velha quanto a ideia de que o mundo material que nós percebemos à nossa
volta seja uma ilusão. Os Vedas na antiga Índia, há mais de seis mil anos, já
tinham conhecimento deste fato, e até o início do século XX não tínhamos (nós
os ocidentais) como entendê-lo. Só com o advento da Física quântica é que se
tornou possível entender de que forma o mundo é uma ilusão, ou seja, é
"Maya". Com a universalização dos conceitos sistêmicos e
holísticos, talvez esta compreensão seja facilitada aos cientistas. Há
conceitos que nos enternecem e nos fazem sentir mais esperançosos e mais
divinizados como seres humanos, mas nos assustam e nos confundem o
entendimento do existir. A crer nas leis da Física quântica, nós não
existimos como seres materiais, o Holismo e a Semiótica nos remetem a um
mundo extremamente universal e impessoal, onde não somos muito relevantes
como seres! Talvez, nem mesmo individualmente sejamos necessários ou tenhamos
alguma importância para o "existir" da humanidade ou da vida
planetária. Talvez por termos sido formados dentro dos conceitos já ultrapassados
do atomismo de Leucipo e de seu discípulo Demócrito, do determinismo de
Laplace e do materialismo filosófico deflagrado a partir do século VI (a.C.)
na Grécia antiga pelos filósofos pré-socráticos. Com todo o uso da
inteligência dos filósofos modernos, e aqui incluo pensadores do passado como
Descartes (1596–1650), Baruch de Espinoza (1632-1677), John Locke,
(1632-1704), e, sobretudo, Imannuel Kant (1724-1804), que teve a sorte de
beber de todas estas fontes. A filosofia com todo seu aparato intelectual
nunca conseguiu penetrar um milímetro sequer na essência da essência do “isto
aí”, do “é” ou ente, ou "“SER”", não utilizo aqui a distinção
heideggeriana entre o “Ente” e o ““Ser””. Não posso tornar este ensaio o
prolegômenos da nova teoria de Rupert Sheldrake. Vamos a ela de forma
sucinta, mas, sistematizada, em 1920 foi difundido dentro do mundo da
biologia a teoria dos (Campos Biológicos das Formas), ou Campos
Morfogenéticos, ou seja, os campos das formas vivas, talvez influenciados
pelas descobertas (1873), dos campos eletromagnéticos, pelo cientista inglês James Maxwell.
4* Em 1981 Sheldrake levou ao conhecimento
do mundo o seu livro A New Science of
Life (Uma Nova Ciência da Vida), contendo suas descobertas suas análises,
e suas propostas, o que resulta em suas crenças, do que ele chamou de
Ressonância Mórfica, parecida com a teoria dos campos morfogenéticos dos
biólogos de 1920, no entanto bem diferente em forma e conceitos gerais. Não
posso nem dizer que Sheldrake ampliou o conceito de campos morfogenéticos de
tão diferentes que são! Embora parecidos são completamente díspares, os
campos morfogenéticos se atêm as formas dos seres vivos enquanto vivos e a
cada um de "per se". A Ressonância Mórfica se reporta aos seres
sempre em abrangência grupal, embora a função seja individual. Abrangendo
tanto os seres superiores, como os inferiores como as células, o reino das
plantas e até os cristais estão sujeitos à Ressonância Mórfica, no dizer
dele, “Sheldrake”, os planetas os sistemas planetários, as galáxias o Universo
enfim. Tudo que evolui e tem memória, memória esta, resultante da Ressonância
Mórfica. Para uma melhor compreensão do leitor, julgo mais acertado juntar um
artigo do próprio Sheldrake fruto de uma conferência sua e traduzido do site:
www.sheldrake.org, desconheço o
autor da tradução. A transcrição é ipsis litteris.
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O RECÔNDITO DO "SER”, OU A MENTE HUMANA - Obra 21 ENSAIO