DA SÉRIE: ENSAIOS QUE NOS LEVAM A
PENSAR
Da subsérie: Grandes pensadores da
humanidade.
JIDDU
KRISHNAMURTI E O AUTOCONHECIMENTO
1)JKEOA). Nos infelizes séculos XIX e XX, pois, foi nestes séculos dos horrores, que os
homens, com somente duas tecnologias. “a tecnologia
do uso desenfreado do petróleo, com o primeiro poço de petróleo perfurado no Texas em (1883), e a tecnologia termonuclear, desenvolvida pelo projeto Manhattan (1941-45)”. Unicamente, com estas duas tecnologias, os "sapiens" conseguiram, "método e poder" para aniquilar completamente a humanidade.
2)JKEOA). O homem é um animal
sem memória! Estamos no início século XXI, e ninguém mais se lembra das Guerras
ocorridas no SXIX, Vou enumerá-las para refrescar essa memória, aparentemente
inexistente! Eis somente os nomes das guerras! Sem cronologias nem número de
mortos, nem outros dados: Guerras napoleônicas; Revolução do Texas; Guerra
Austro-Prussiana; Guerras Berberes; Expedição punitiva de Benin; Guerra dos Bôeres; Guerra Civil Portuguesa; Guerra da Independência do Brasil; Guerra das Laranjas; Primeira Guerra Berberesca; Guerra Hispano Americana; Primeira Guerra de Matabele; Segunda Guerra de Matabele; As pequenas escaramuças não serão citadas. Deixei por último
a Guerra dos Trezentos e Trinta e Cinco anos,
por ter sido a guerra que mais durou na história da humanidade. No entanto foi
a única Guerra em que não se disparou um único tiro, ou morreu sequer um
soldado, ela aconteceu por todo este tempo, e foi declarada no ano de 1671
entre as ilhas independentes Scilly, localizadas
na costa sudoeste da Grã Bretanha, que até hoje são habitadas pelos
descendentes do povo Celta, esta guerra foi declarada pela República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, foi um estado de guerra teórico, esta Guerra foi declarada em 1671 e declaração de paz só aconteceu em 1986. Os Cro-Magnons, nominados por Linnaeus de “homo sapiens sapiens” e que hoje
habitam todo o planeta, e que ao que parece são destituídos de memória! Mas só
parece! Ele registra tudo, mas, suas ações nunca levam em consideração os atos
danosos praticados por eles mesmos no passado. Daí, a burrice continua. Estas
guerras aconteceram sem o uso dos derivados do combustíveis fósseis! Os motores
a diesel só apareceria nas duas últimas décadas do sXIX, e só a
partir do início do nefasto sXX as máquinas de Guerra tocadas por combustíveis
derivados do petróleo. Primeiro nos fins do SXIX descobriram como poderiam fazer uso
desenfreado dos derivados do petróleo! E com isso estamos matando o planeta, e
o pior, com a tecnologia nuclear”, descobriram como poderiam aniquilar
completamente a humanidade, parece que para compensar! Nestes séculos,
indiscutivelmente, passaram por este planeta seres singulares. Neste ensaio,
cito e trato somente da pessoa e da obra de Jiddu Krishnamurti, sobre o tema a
que se refere o título: (Autoconhecimento). Me referirei oportunamente, às
vidas e às obras de Helena Petrovna Blavatsky, (1831-1891), Henry Steel Olcott,
(1832-1907), William Quan Judge, (1851-1896), e Pietro Ubaldi (1886-1972). Este
último chegou a morar aqui no Brasil, em São Paulo por 12 anos, Ubaldi nos
deixou a obra: “A GRANDE SÍNTESE”. Os três do centro fundaram em 1875 a
Sociedade Teosófica, também, pretendo, oportunamente abordar o assunto
“Sociedade Teosófica” como um todo. O primeiro deles, e de que aqui estou a tratar é
o Indiano, Jiddu Krishnamurti nascido em 1895 na cidade de Madanapalle, no sul
da Índia, e falecido em 1986 na cidade de Ojai, na Califórnia, Estados Unidos,
tendo sido educado na Inglaterra. Jiddu não tinha ligação filosófica/religiosa
com nenhuma organização, nem mesmo com a Sociedade Teosófica, nem se
apresentava em suas conferências com títulos acadêmicos, ou como chefe, nem mesmo como representante de seita
ou de organização. Foi um dos maiores pensadores do século XX.
3)JKEOAC). Estas páginas que vos apresento foram compiladas por Mary Lutyens de escritos e
de fitas gravadas de algumas palestras proferidos em diversas conferências por
Krishnamurti, sendo que a ordem dos capítulos foi escolhida pela própria Mary
Lutyens, e isto foi feito com autorização de Krishnamurti, sendo publicadas em
1969 no livro Freedom From The Known, trata-se de uma pequena brochura com
somente 101 páginas de “sabedoria ímpar”, no Brasil foi publicado pela Editora
Cultrix, com o título: Liberte-se do Passado. Recebi esta obra como um
presente, do amigo e espiritualista Rildo Dias, este é um dos vários livros de
Krishnamurti que ainda desconhecia, então resolvi compartilhar esta abordagem
do Krishnamurti, da atual “vida humana”, com meus poucos leitores. Peço aos
leitores, que se possível analisem, capítulo por capítulo, se para tanto vosso
tempo, o permitir!!!... A maneira de Krishnamurti falar, escrever, divulgar e
expor suas ideias, são de uma simplicidade e clareza nunca dantes utilizada por
outro pensador! Qualquer mente mediana como a minha, consegue entendê-lo com a
maior facilidade, tanto que sua obra dispensa interpretações, comentários ou explicações.
4)JKEOA). No entanto, por se tratar da mente de um indiano, nalguns pontos, torna-se
necessário pequenas explicações. Peço encarecidamente e humildemente aos meus
poucos e inteligentes leitores que me ajudem a analisar, cuidadosamente e
profundamente o raciocínio de Krishnamurti, ponto por ponto, vírgula por
vírgula, palavra por palavra, frase por frase, contidas nestas dez páginas. No
livro, o texto deste “capítulo I” vai da página nove a dezoito, e trata
unicamente do autoconhecimento, foi o tema deste 1º Capítulo que me levou a
escrever este ensaio. No “intermezzo” resolvi que seria mais prático
transcrever estas páginas, levando-as integralmente, ao conhecimento de meus
pacientes e inteligentes leitores. Pois, analisá-las, talvez, meu parco entendimento,
não conseguisse fazê-lo a contento. Encontro o fundamento necessário para dar
suporte a proposta contida neste texto (deste marcador de leitura 4)JKEOAC)., no fato,
de que grande parte dos leitores dificilmente terão oportunidade de ler todos
as 48 obras de Jiddu publicadas em português, e as que ainda não o foram, fica
mais difícil ainda. A realidade simplesmente é esta. Jiddu já se foi, mas, suas
obras estão disponíveis para aqueles que as buscarem.
5)JKEOA). Neste ensaio apresento suas dez páginas, literalmente separadas, para facilitar
a apreciação que faremos de cada texto contido em cada página, (isto quando
necessário), e o faremos, no geral e no particular. Portanto, aqui não
analisarei os pensamentos e proposições de Krishnamurti. No entanto, isto, o
faremos juntos, eu e meus pacientes e inteligentes leitores. No próximo ensaio
apresentarei as outras onze páginas do segundo capítulo. Creio, embora creia,
que “crer”, nunca nos leve a nada, no entanto, embora não utilize a maiêutica,
espero conseguir despertar a “inteligência” de todos os leitores. Na
realidade, se um único leitor ler com atenção estas poucas páginas, e conseguir
entender, por pouco que seja, um mínimo da essência do raciocínio de
Krishnamurti sobre o autoconhecimento, meu objetivo foi alcançado! Mas, quem
usufruirá disto, será este único leitor! Os outros continuarão como sempre
foram, não mudarão seu “status quo”.
Para
diferençar as páginas. Toda a transcrição das dez páginas será em fonte “Batang”
14, em negrito, sendo meus singelos comentários em fonte “Verdana” 12, também
em negrito, Edimilson Santos Silva Movér, em 22/05/2014
Vou
transcrever algumas de minhas antigas observações Movér
6)JKEOA). “Os ocidentais são interessantes! Nunca buscam as essências das “coisas”. O
pior, é que isso modula o pensamento ocidental. Porque será que não buscam? E
não venham me dizer que não é verdade. Diderot, já reconhecia e chamava a
atenção para este fato, lá no século XVIII. - “E vós falais de essências, pobres
filósofos” Diderot. - Ele pedia que se observasse no mínimo a massa de desvalidos
da França. A essência vazia buscada pelos filósofos tornava-se “desprezível”
frente as agruras por que passava o povo francês na época, e naquele momento.
A França passava por momentos terríveis, e alguns filósofos falavam em
essências, quando o momento pedia ação! Isto está em “O Sonho de D’Alembert”.
7)JKEOAC). Estou consciente de que: A leitura de um texto qualquer, por si mesma, não
altere a “visão da existência imediata” ou suas crenças, e muito menos a
existência de um “Ser”! Ou altere o próprio “Ser”. A única alteração possível
num “Ser”, seria no seu entendimento, ou no que chamo de “sua visão de mundo”!
Os “Seres” em si, não se alteram nunca. A única mudança possível seria em sua
“visão de mundo” ou no que chamamos também de “paradigma”. Estas mudanças
quando ocorrem! Mudam seu comportamento perante sua própria vida, e
naturalmente, perante seus semelhantes. Ai, dizemos erroneamente, “fulano”,
mudou completamente! Os “Seres” são criações divinas, portanto, perfeitas e
eternas. Que só evoluem em seu entendimento ou percepção da
existência, ou no que chamamos de evolução do espírito. Sendo ele uma partícula
que em sua essência é criação do “TODO”, não teria como alterar esta criação
nem com o passar da eternidade. A evolução não se processa na essência do
espírito, mas sim, na sua percepção, ou entendimento da existência como um
todo. O ocidental, não sei porque, no geral confunde a “essência” do espírito que
é o próprio espírito, com o “entendimento”, que representa sua evolução
interior! Esta evolução no “eu interior” através do “entendimento”
só torna-se possível quando “Seres” se tornam duais: Matéria e Espírito! Em outras palavras "seres humanos". Movér
8)JKEOAC). Mas, qualquer alteração que houver nesta visão de mundo! Advirá de dentro deste
“Ser”. O que poderá ser provocada pelo entendimento da leitura de um texto, ou
do entendimento proposto ou contido numa palestra, mas, isto só ocorrerá! Com
uma profunda interação, que por ventura houver, entre este entendimento e o seu
“eu” interior, ou essência espiritual, e que no ocidente chamamos de espírito
ou alma. Aí, o entendimento da “existência” deste espírito mudou, mas, não o
espírito em si. Não creio que isto seja tão difícil de entender! Creio que
ainda reste um resquício de materialidade no enfoque que o ocidental faz do
“Ser” que chamam de “espírito”. Só pode ser isso! Isto só pode derivar disto!
Vamos à transcrição...
Capítulo
I
Página
9
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9)JKEOAC).A Busca do Homem – A Mente Torturada – O
Caminho Tradicional – A Armadilha da Respeitabilidade – O Ente Humano e o
Indivíduo – A Batalha da Existência - A Natureza Básica do Homem – A
Respeitabilidade – A Verdade – A Dissipação de Energia – A Libertação da
Autoridade.
Através das idades veio o homem buscando uma certa
coisa além de si próprio, além do bem-estar material – uma coisa que se pode
chamar verdade, Deus ou realidade, um estado atemporal – algo que não possa ser
perturbado pelas circunstâncias, pelo pensamento ou pela corrupção humana.
O homem sempre indagou: Qual a finalidade de tudo
isso? Tem a vida alguma significação? Vendo a enorme confusão reinante na vida,
as brutalidades, as revoltas, as guerras, as intermináveis divisões da
religião, da ideologia, da nacionalidade, pergunta homem, com um profundo
sentimento de frustração, o que se deve fazer, o que é isso que se chama viver
e se alguma coisa existe além de seus limites.
E, não podendo encontrar essa
coisa sem nome e de mil nomes que sempre buscou, o homem cultivou a fé – fé num
salvador ou num ideal, a fé que invariavelmente gera a violência.
Nesta batalha constante que chamamos “viver”,
procuramos estabelecer um código de conduta, conforme a sociedade em que somos
criados, quer seja uma sociedade comunista, quer uma pretensa sociedade livre;
aceitamos um padrão de comportamento como parte de nossa tradição hinduísta,
muçulmana.
Capítulo I
Página 10
____________________________
10)JKEOAC). cristã ou outra. Esperamos que alguém nos
diga o que é conduta justa ou injusta, pensamento correto ou incorreto e, pela
observância desse padrão, nossa conduta e nosso pensar se tornam mecânicos,
nossas reações, automáticas. Pode-se observar isso muito facilmente em nós
mesmos.
Durante séculos fomos amparados por nossos
instrutores, nossas autoridades, nossos livros, nossos santos. Pedimos:
“Dizei-me tudo; mostrai-me o que existe além dos montes, das montanhas e da
Terra” – e satisfazemo-nos com suas descrições, quer dizer, vivemos de
palavras, e nossas vidas são superficiais e vazias. Não somos originais. Temos
vivido das coisas que nos tem dito, ou guiados por nossas inclinações, nossas
tendências, ou impelidos a aceitar pelas circunstâncias e o ambiente. Somos o
resultado de toda espécie de influência e em nós nada existe de novo. Nada descoberto
por nós mesmos. Nada original. Inédito, claro.
Consoante à história teológica, garantem-nos os
guias religiosos que, se observarmos determinados rituais, recitarmos certas
preces e versos sagrados, obedecermos a alguns padrões, refrearmos nossos desejos,
controlarmos nossos pensamentos, sublimarmos nossas paixões, se nos abstivermos
dos prazeres sexuais, então, após torturar suficientemente o corpo e o
espírito, encontraremos uma certa coisa além desta vida desprezível.
É
isso o que tem feito, no decurso das idades, milhões de indivíduos ditos
religiosos, quer pelo isolamento, nos desertos, nas montanhas, numa caverna,
quer peregrinando de aldeia em aldeia a esmolar, quer em grupos, ingressando em
mosteiros e forçando a mente a ajustar-se a padrões estabelecidos. Mas, a mente
que foi torturada, subjugada, a mente que deseja fugir a toda agitação, que
renunciou ao mundo exterior e se tornou embotada pela disciplina e o
ajustamento – essa mente, por mais longamente que busque, o que achar será em
conformidade com sua própria deformação.
Assim, para descobrir se de fato existe ou não
alguma coisa além desta existência ansiosa, culpada, temerosa, competidora,
parece-me necessário tomarmos um caminho completamente diferente. O caminho
tradicional parte da periferia para dentro, para, através do tempo, da prática
e da renúncia, atingir gradualmente aquela flor interior, aquela íntima beleza
e
Capítulo I
Página 11
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11)JKEOAC). amor – enfim, tudo fazer para tornarmos
estreitos, vulgares e falsos; retirar as camadas uma a uma; precisar do tempo:
amanhã ou na próxima vida chegaremos – e quando, afinal,
atingirmos centro, não encontrarmos nada, porque nossa mente se
tornou incapaz, embotada, insensível.
Após observar esse processo, perguntamos a nós
mesmos se não haverá outro caminho totalmente diferente, isto é, se não teremos
possibilidade de “explodir” do centro.
O mundo aceita e segue o caminho tradicional. A
causa primária da desordem em nós existente é estarmos buscando a realidade
prometida por outrem; mecanicamente seguimos todo aquele que nos garante uma
vida espiritual confortável. É um fato verdadeiramente singular esse, que,
embora em maioria sejamos contrários à tirania política e à ditadura, interiormente
aceitamos a autoridade, a tirania de outrem, permitindo-lhe deformar a nossa
mente e a nossa vida. Assim, se de todo rejeitarmos, não intelectual, porém
realmente, a autoridade dita espiritual, as cerimônias, rituais e dogmas, isso
significará que estamos sozinhos, em conflito com a sociedade; deixaremos de
ser entes humanos respeitáveis. Ora, um ente humano respeitável nenhuma
possibilidade tem de aproximar-se daquela infinita, imensurável realidade.
Começais agora por rejeitar uma coisa que é totalmente
falsa – o caminho tradicional – mas, se rejeitardes com reação, tereis criado
outro padrão no qual vos vereis aprisionado com uma armadilha; se
intelectualmente dizeis a vós mesmo que esta rejeição é uma ideia importante, e
nada fazeis, não ireis mais longe. Se entretanto, a rejeitardes por terdes
compreendido quanto é estúpida e imatura, se a rejeitais com alta inteligência,
porque sois livre e sem medo, criareis muita perturbação dentro e ao redor de
vós, mas, vos livrareis da armadilha da respeitabilidade. Vereis então que
cessou o vosso buscar. Essa é a primeira coisa que temos de aprender: não
buscar. Quando buscais, agis, com efeito, como se estivésseis apenas a olhar
vitrinas.
A pergunta sobre se há Deus, verdade, ou realidade
– ou como queira chamá-lo – jamais será respondida pelos livros, pelos
sacerdotes, filósofos ou salvadores. Ninguém e
Capítulo I
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12)JKEOAC). Nada pode responder a essa pergunta,
porém, somente vós mesmo, e essa é a razão por que deveis conhecer-vos. Só há
falta de madureza na total ignorância de si mesmo. A compreensão de si próprio
é o começo da sabedoria.
E, o que é vós mesmo, o vós individual? Penso que
há uma diferença entre o ente humano e o indivíduo. O indivíduo é a entidade
local, o habitante de qualquer país, pertencente à determinada cultura, uma
dada sociedade, uma certa religião. O ente humano não é uma entidade local. Ele
está em toda parte. Se o indivíduo só atua num certo canto, isolado do vasto campo
da vida, sua ação está totalmente desligada do todo. Portanto, é necessário ter
em mente que estamos falando do todo e não da parte, porque no maior está
contido o menor, mas o menor não contém o maior. O indivíduo é aquela
insignificante entidade condicionada, aflita, frustrada, satisfeita com seus
pequeninos deuses e tradições; já o ente humano está interessado no bem-estar
geral, no sofrimento geral e na total confusão em que se acha o mundo.
Nós, entes humanos, somos os mesmos que éramos há
milhões de anos – enormemente ávidos, invejosos, agressivos, ciumentos,
ansiosos e desesperados, com ocasionais lampejos de alegria e afeição. Somos
uma estranha mistura de ódio, medo e ternura; somos ao mesmo tempo a violência
e a paz. Têm-se feito progressos, exteriormente, do carro de boi ao avião a
jato, porém, psicologicamente, o indivíduo não mudou em nada, e a estrutura da
sociedade, em todo mundo, foi criada por indivíduos. A estrutura social,
exterior, é o resultado da estrutura psicológica, interior, das relações
humanas, pois o indivíduo é o resultado da experiência, dos conhecimentos e da
conduta do homem, sob uma visão global. Cada um de nós é o depósito de todo o
passado. O indivíduo é o ente humano que representa toda a humanidade. Toda a
história humana está escrita em nós.
Observai o que realmente está ocorrendo dentro e
fora de vós mesmo, na cultura de competição em que viveis, com seu desejo de
poder, posição, prestígio, nome, sucesso, etc.: observai as realizações de que
tanto vos orgulhais, todo esse campo que chamais viver e no qual há conflito em
todas as formas de relação, suscitando ódio, antagonismo, brutalidade
Capítulo I
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13)JKEOAC). e guerras intermináveis. Esse campo, essa
vida, é tudo o que conhecemos, e como somos incapazes de compreender a enorme
batalha da existência, naturalmente lhe temos medo e dela tentamos fugir pelas
mais sutis e variadas maneiras. Temos também medo a desconhecido – temor da
morte, temor do que reside além do amanhã. Assim, temos medo ao conhecido e
medo ao desconhecido. Tal é a nossa vida diária; nela, não há esperança alguma
e, por conseguinte, qualquer espécie de filosofia, qualquer espécie de teologia
representa meramente uma fuga à realidade – do que é.
Todas as formas exteriores de mudança, produzidas
pelas guerras, revoluções, reformas; pelas leis e ideologias, falharam
completamente, pois não mudaram a natureza básica do homem e, portanto, da
sociedade. Como seres humanos, vivendo neste mundo monstruoso, perguntemos a
nós mesmos: “Pode esta sociedade, baseada na competição, na brutalidade e no
medo, terminar? – terminar, não como um conceito intelectual, como uma
esperança, porém como um fato real, de modo que a mente se torne vigorosa,
nova, inocente, capaz de criar um mundo totalmente diferente?” Creio que isso
só ocorrerá se cada um de nós reconhecermos o fato central de que, como
indivíduos, como entes humanos, - seja qual for a parte do universo em que
vivamos, não importando a que cultura pertençamos – somos inteiramente
responsáveis por toda a situação do mundo.
Somos, cada um de nós, responsáveis por todas as
guerras, geradas pela agressividade de nossas vidas, pelo nosso nacionalismo,
egoísmo, nossos deuses, preconceitos, ideais – pois tudo isso está a
dividir-nos. E só quando percebemos, não intelectualmente, porém realmente, tão
realmente como reconhecemos que estamos com fome ou que sentimos dor, bem como
quando vós e eu percebemos que somos os responsáveis por todo este caos, por
todas as aflições existentes no mundo inteiro, porque para isso contribuímos em
nossa vida diária e fazemos parte desta monstruosa sociedade, com suas guerras,
divisões, sua fealdade, brutalidade e avidez – só então poderemos agir.
Mas, que pode fazer um ente humano, que podeis vós
e eu fazer para criar uma sociedade completamente
Capítulo I
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14)JKEOAC). diferente? Estamos fazendo a nós mesmos
uma pergunta muito séria. É necessário fazer alguma coisa? Que podemos fazer?
Alguém no-lo dirá? Muita gente no-lo tem dito. Os chamados guias espirituais,
que supõem compreender essas coisas melhor do que nós, no-lo disseram, tentando
modificar-nos e moldar-nos em novos padrões, e isso não nos levou muito longe;
homens sofisticados e eruditos no-lo tem dito, e também eles não nos levaram
muito longe. Disseram-nos que todos os caminhos levam a verdade, vós
tende o vosso caminho, como hinduísta, outros o tem com cristãos, e outros,
ainda o tem como muçulmano; mas, todos estes caminhos vão encontrar-se diante
da mesma porta. Isso, quando considerarmos bem, é um evidente absurdo. A
verdade não tem caminho, e essa é sua beleza; ela é viva. Uma coisa morta não
tem um caminho a ela conducente, porque é estática, mas, quando perceberdes que
a verdade é algo que vive, que se move, que não tem pouso, que não tem templo,
mesquita ou igreja, e que a ela nenhuma religião, nenhum instrutor, nenhum
filósofo pode levar-vos – vereis, então, também, que essa coisa viva é o que
realmente sois – vossa irascibilidade, vossa brutalidade, vossa violência,
vosso desespero, a agonia e o sofrimento em que viveis. Na compreensão de tudo
isso se encontra a verdade. E só o compreendereis se souberdes como olhar tais
coisas de vossa vida. Mas não se pode olhá-las através de um ideologia, de uma
cortina de palavras, através de esperanças e temores.
Como vedes, não podeis depender de ninguém. Não há
guia, não há instrutor, não há autoridade. Só existe vós, vossas relações com
outros e com o mundo, e nada mais. Quando se percebe este fato, ou ele produz
um grande desespero, causador de pessimismo e amargura; ou, enfrentando o fato
de que vós e ninguém mais sois o responsável pelo mundo e por vós mesmo, pelo
que pensais, pelo que sentis, pela maneira como agis, desaparece de todo a
autocompaixão. Normalmente, gostamos de culpar os outros, o que é uma forma de
autocompaixão.
Poderemos, então, vós e eu, promover em nós mesmos
– sem dependermos de nenhuma influência exterior, de nenhuma persuasão, sem
nenhum medo de punição – poderemos promover em nossa própria essência uma
revolução total, uma mutação psicológica, para que não sejamos mais brutais,
violentos,
Capítulo I
Página 15
15)JKEOAC). competidores, ansiosos, medrosos, ávidos,
invejosos – enfim, todas as manifestações de nossa natureza que formaram a
sociedade corrompida em que vivemos nossa vida de cada dia?
Importa compreender desde já que não estou
formulando nenhuma filosofia ou estrutura de ideias ou conceitos teológicos.
Todas as ideologias se me afiguram totalmente absurdas. O importante não é a
filosofia da vida, porém que observemos o que realmente está ocorrendo em nossa
vida diária, interior e exteriormente. Se observardes muito atentamente o que
se está passando, se examinardes, vereis que tudo se baseia num conceito intelectual.
Mas o intelecto não constitui o campo total da existência; ele é um fragmento,
e todo fragmento, por mais engenhosamente ajustado, por mais antigo e
tradicional que seja, continua a ser uma parte insignificante da existência, e
nós temos de interessar-nos pela totalidade da vida. Quando consideramos o que
está ocorrendo no mundo, começamos a compreender que não há processo exterior
nem processo interior; há só um processo unitário, um movimento integral,
total, sendo que o movimento interior se expressa exteriormente, e o movimento
exterior, por sua vez, reage ao interior. Ser capaz de olhar este fato – eis o
que é necessário, só isso; porque, se sabemos olhar, tudo se torna claríssimo.
O ato de olhar não requer nenhuma filosofia, nenhum instrutor. Ninguém precisa
ensinar-vos como olhar. Olhais simplesmente.
Assim, vendo todo esse quadro, vendo-o não
verbalmente porém realmente, podeis transformar-vos, natural e espontaneamente?
Esse é que é o verdadeiro problema. Será possível promover uma revolução
completa na psique?
Eu gostaria de saber qual é a vossa reação a uma
pergunta dessas. Direis porventura: “Não desejo mudar” – e a maioria das
pessoas não o deseja, principalmente aqueles que se acham em relativa
segurança, social e econômica, ou que conservam crenças dogmáticas e se
satisfazem em aceitar a si próprios e às coisas tais como são ou em forma
ligeiramente modificada. Tais pessoas não nos interessam. Ou talvez digais,
mais sutilmente: “Ora, isso é dificílimo, está fora do meu “alcance“. Nesse
caso, já fechastes o caminho, já cessastes de investigar e será completamente
inútil prosseguir. Ou, ainda, direis: “percebo a necessidade de uma
transformação interior,
Capítulo I
Página 16
_______________________________________
16)JKEOAC). fundamental, em mim mesmo, mas como
empreendê-la? Peço-vos me mostreis o caminho, me ajudeis a alcançá-la”. Se
assim falardes, então o que vos interessa não é a transformação em si, não
estais realmente interessado numa revolução fundamental: estais, meramente, a
buscar um método, um sistema capaz de efetuar a mudança.
Se fôssemos tão sem juízo que vos déssemos um
sistema, e vós tão sem juízo que o seguísseis, estaríeis meramente a copiar, a
imitar, a ajustar-vos, a aceitar, e, fazendo tal coisa, teríeis estabelecido em
vós mesmo a autoridade de outrem, do que resultaria conflito entre vós e essa
autoridade. Pensais que deveis fazer tal e tal coisa porque vo-la mandaram
fazer e, no entanto, sois capaz de fazê-la. Tendes vossas peculiares
inclinações, tendências e pressões, que colidem com o sistema que julgais dever
seguir e, por conseguinte, existe um contradição. Levareis, assim, uma vida
dupla, entre a ideologia do sistema e a realidade de vossa existência diária.
No esforço para ajustar-vos à ideologia, recalcais a vós mesmo e, no entanto, o
que é realmente verdadeiro não é a ideologia, porém aquilo que sois. Se
tentardes estudar-vos de acordo com outrem, permanecereis sempre um ente humano
sem originalidade.
O homem que diz: “Desejo mudar, dizei-me como
consegui-lo” – parece muito atento, muito sério, mas não o é. Deseja uma
autoridade que ele espera, que estabelecerá a ordem nele próprio. Mas, pode
algum dia a autoridade promover a ordem interior? A ordem imposta de fora gera
sempre, necessariamente a desordem. Podeis perceber essa verdade
intelectualmente, mas sereis capaz de aplicá-la de maneira que vossa mente não
projete qualquer autoridade – a autoridade de um livro, de um instrutor, da
esposa ou do marido, dos pais, de um amigo, ou da sociedade? Como sempre
funcionamos segundo o padrão de uma fórmula, essa fórmula transforma-se em
ideologia e autoridade; mas, assim que perceberdes realmente que a pergunta
“como mudar?” cria uma nova autoridade, tereis acabado com a autoridade para
sempre.
Repitamo-lo claramente: Vejo que tenho de mudar
completamente, desde as raízes de meu ser; não posso mais depender de nenhuma
tradição, porque foi a tradição que criou essa colossal indolência, aceitação e
obediência; não posso contar
Capítulo I
Página 17
______________________________________
17)JKEOAC). com outrem para me ajudar a mudar, com
nenhum instrutor, nenhum deus, nenhuma crença, nenhum sistema, nenhuma pressão
ou influência externa. Que sucede então?
Em primeiro lugar, podeis rejeitar toda autoridade?
Se podeis, isso significa que já não tendes medo. E então que acontece? Quando
rejeitais algo falso que trazeis convosco há gerações, quando largais uma carga
de qualquer espécie, que acontece? Aumentais vossa energia, não? Ficais com
mais capacidade, mais ímpeto, maior intensidade e vitalidade. Se não sentis
isso, nesse caso não largastes a carga, não vos livrastes do peso morto da
autoridade.
Mas, uma vez vos tenhais livrado dessa carga e
tenhais aquela energia em que não há medo de espécie alguma – medo de errar, de
agir incorretamente – essa própria energia não é então mutação? Necessitamos de
grande abundância de energia, e a dissipamos com o medo; mas, quando existe a
energia que vem depois de nos livrarmos de todas as formas do medo, essa
própria energia produz a revolução interior, radical. Nada tendes que fazer
nesse sentido.
Ficais então a sós com vós mesmo, e esse é o estado
real que convém ao homem que considera a sério estas coisas. E como já não
contais com a ajuda de nenhuma pessoa ou coisa, estais livre para fazer
descobertas. Quando há liberdade, há energia; quando há liberdade, ela não pode
fazer nada errado. Não há agir correta ou incorretamente, quando há
liberdade. Sois livre e, desse centro, agis. Por conseguinte,
não há medo, e a mente sem medo é capaz de infinito amor.e o amor pode fazer o
que quer.
O que agora vamos fazer, por conseguinte, é
aprender a conhecer-nos, não de acordo comigo ou de acordo com um certo
analista ou filósofo; porque, se fazemos de acordo com outra pessoa, aprendemos
a conhecer essas pessoas e não a nós mesmos. Vamos aprender o
que somos realmente.
Tendo percebido que não podemos depender de nenhuma
autoridade exterior para promover a revolução total na estrutura de nossa
própria psique, apresenta-se a dificuldade infinitamente maior de rejeitarmos
nossa própria autoridade interior,
Capítulo I
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18)JKEOAC). a autoridade de nossas próprias e
insignificantes experiências e opiniões acumuladas, conhecimentos, ideias e
ideais. Digamos que tivestes ontem uma experiência que vos ensinou algo, e isso
que ela ensinou se torna uma nova autoridade, e vossa autoridade de ontem é tão
destrutiva quanto a autoridade de um milhar de anos. A compreensão de nós
mesmos não requer nenhuma autoridade, nem a do dia anterior nem a de há mil
anos, porque somos entidades vivas, sempre em movimento, sempre a fluir e
jamais se detendo. Se olharmos a nós mesmos com a autoridade morta de ontem,
nunca compreenderemos o movimento vivo e a beleza e natureza desse movimento.
Livrar-se de toda a autoridade, seja própria, seja
de outrem, é morrer para todas as coisas de ontem – para que a mente seja
sempre fresca, sempre juvenil, inocente, cheia de vigor e de paixão. Só nesse
estado é que se aprende e observa. Para tanto, requer-se grande capacidade de
percebimento, de real percebimento do que se está passando no interior de vós
mesmo, sem corrigirdes e que vedes, sem dizerdes o que deveria ou não deveria
ser. Porque, tão logo corrigis, estais estabelecendo outra autoridade, um
censor.
Vamos, pois, investigar juntos a nós mesmos;
ninguém ficará explicando enquanto ides lendo, concordando ou discordando do
explicador ao mesmo tempo em que ides seguindo as palavras do texto, porém
vamos fazer juntos uma viagem, uma viagem de exploração dos mais secretos
recessos de nossa mente. Para compreender essa viagem precisamos estar livres;
não podemos transportar uma carga de opiniões, preconceitos e conclusões –
todos os trastes imprestáveis que juntamos no decurso dos últimos dois mil anos
ou mais. Esquecei-vos de tudo o que pensastes a vosso respeito, vamos iniciar a
marcha como se nada soubéssemos.
A noite passada choveu torrencialmente e agora céu
está começando a limpar-se; é um dia novo, fresco; encontremo-nos com este dia
novo como se fosse nosso único dia. Iniciemos juntos a jornada, deixando para
trás todas as lembranças de ontem, e comecemos a compreender-nos pela primeira
vez.
19)JKEOAC). Chegamos ao fim da transcrição “ipsis litteris” desta sucinta apresentação de
um único capítulo da obra. LIBERTE-SE DO PASSADO. Esta transcrição é dirigida
aos que ainda desconhecem o pensamento e as proposições de Jiddu Krishnamurti,
aos seus leitores habituais, esta transcrição torna-se desnecessária. Movér.
20)JKEOAC). Este primeiro capítulo do livro LIBERTE-SE DO PASSADO, acima transcrito, consta
de 3425 palavras. Naturalmente, que isto representa somente parte dos
ensinamentos e proposições de Jiddu Krishnamurti, sobre como andar bem, com
nossas próprias pernas pela trilha que nos leva ao autoconhecimento. Creio,
embora o que cremos nunca nos leve a lugar algum, recordando e considerando que
não crer, também sempre nos leva a nada. Segundo Krishnamurti não devemos
buscar pelo ser que reside em nós, mas sim, encontrar o ser que reside em nós,
a diferença é sutil, mas, existe! O que nos levará à essência do ente humano.
Esta jornada independe de instrutor, guia, professor, mestre, filósofo, chefe
religioso ou guru. Nos pensamentos e nas proposições de Krishnamurti, contidas
em suas mais de “sessenta obras”, ele nos propõe, minuto a minuto, que o
caminho só pode ser percorrido por cada um e de “per se”. Quem lê suas obras,
se conscientiza, de que “ele” não é, nem se considera ou se põe como nosso
guia, profeta, guru, instrutor ou coisa semelhante. Segundo suas palavras o
homem é mestre de si próprio, ele somente nos mostra singela e sabiamente como
um espelho, como sermos nossos próprios timoneiros, em meu rude entendimento:
(O homem não necessita de guia! Quem necessita de guia é o cego, pois, toda a
luz para iluminar nosso caminho na compreensão de nós mesmos, está em nosso
interior divino, ou seja, em nossa espiritualidade feita exclusivamente de
energia). O desenvolvimento da ciência, cerceou a filosofia da busca da sua
espiritualidade. Espiritualidade é coisa que o filósofo de hoje, estribado na
ciência, deixou de buscar a muito tempo. A proposição de Denis Diderot está
mais atual que nunca!
21)JKEOAC). Krishnamurti escreve por si próprio, ele nunca cita um único filósofo, um único
grande mestre do saber, ou mesmo, um único ensinamento de um grande mestre
religioso. Ele chama a tenção para o fato que a única entidade a que temos
acesso irrestrito, é nosso eu interior e nada mais, Observai e estai atentos a
este fato. Sendo vastíssima a obra de Krishnamurti, para conhecê-lo melhor, ele,
e sua obra, o melhor caminho é visitar o site: Da ICK. (Instituição Cultural
Krishnamurti). Que segue adiante. Esta Instituição vem desde 1935 divulgando os
ensinamentos do "espelho” no Brasil. Ele se considerava um espelho, e
nunca um Guru ou Guia espiritual de qualquer pessoa. Eis Krishnamurti em
sua essência. Estes dizeres de Jiddu, são repetidas no marcador de leitura nº 31*
[...
- Estou apenas a ser como um espelho da vossa vida, no qual podeis ver-vos como
sois. Depois, podeis deitar fora o espelho; o espelho não é importante. - ...]
Krishnamurti
http://www.krishnamurti.org.br/
22)JKEOAC). Ai, nesse link acima, encontrarás endereços de editoras, títulos de suas obras
publicadas no Brasil, a sua biografia, e vários comentários sobre suas obras.
23)JKEOAC). O homem inteligente, não segue outro homem inteligente, muito menos segue um
homem estulto, simplesmente busca o despertar da sua inteligência imanente,
portanto, contida em seu próprio interior. Movér.
24)JKEOAC). Estas,
a seguir, são citações de algumas proposições de Krishnamurti: Sendo
encontradas na Wikipédia. É só digitar no GOOGLE: “Jiddu Krishnamurti”, onde
há a vantagem de se poder utilizar os links, (letras azuis sublinhadas), que
nos levam a vários temas “específicos”:
OBSERVAÇÕES E PROPOSIÇÕES DE
KRISHNAMURTI
Vão adiante nos marcadores de leitura de nº
25* a 32*
25)JKEOAC). A
forma mais elevada de inteligência humana é dirigir a atenção desprovida de
julgamento
26)JKEOAC). Observar não implica acúmulo de conhecimento, apesar de o conhecimento ser
obviamente necessário em um certo nível: conhecimento como médico,
conhecimento como cientista, conhecimento da história, de todas as coisas do
passado. Afinal de contas, isso é o conhecimento: informação sobre as coisas
do passado. Não há conhecimento do amanhã, apenas conjecturas sobre o que
poderia acontecer amanhã, baseado no seu conhecimento do que já aconteceu.
Uma mente que observa com conhecimento é incapaz de seguir rapidamente o
fluxo do pensamento. É apenas pelo observar sem a tela do conhecimento que se
começa a ver toda a estrutura do seu próprio pensar. E quando você observa -
o que não é condenar ou aceitar, mas simplesmente observar - você descobrirá
que o pensamento chega a um fim. Observar casualmente um pensamento ocasional
não leva a lugar nenhum. Mas se você observa o processo do pensar e não se
torna um observador separado do observado, você vê todo o movimento do
pensamento sem aceitá-lo ou condená-lo, então essa própria observação põe um
fim imediatamente no pensamento - e consequentemente a mente está compassiva;
ela está num estado de constante mutação.
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27)JKEOAC). Há uma
diferença entre concentração e atenção. Concentração é trazer toda sua
energia para focá-la em um ponto determinado. Na atenção não existe um ponto
de foco. Nós estamos familiarizados com um e não com o outro. Quando você
presta atenção ao seu corpo, o corpo torna-se quieto, o qual tem sua própria
disciplina. Ele está relaxado, mas não indolente e tem a energia da harmonia.
Quando existe atenção, não há contradição e, portanto não há conflito. Quando
você ler isto, preste atenção à maneira que você está sentado, à
maneira que você está escutando, como você está recebendo o que a carta está
dizendo a você, como você está reagindo ao que está sendo dito e porque você
está achando difícil prestar atenção. Você não está aprendendo como prestar
atenção. Se você estiver aprendendo o como prestar atenção, então isto se
tornará um sistema, que é o que o cérebro está acostumado, e então você faz
da atenção algo mecânico e repetitivo, ao passo que a atenção não é mecânica
ou repetitiva. É a maneira de olhar para sua vida inteira sem o centro do
interesse próprio.
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28)JKEOAC). O
problema, por conseguinte, é este: para que o homem possa transformar-se
radicalmente, fundamentalmente, torna-se necessária uma mutação nas próprias
células cerebrais de sua mente. Dizem-nos que
devemos mudar, que devemos agir, que devemos transformar nossa mente,
nosso coração, tornar-nos uma coisa totalmente diferente. Isso
vem sendo pregado há milhares de anos por homens muito sérios, muito
ardorosos, e também por charlatães interessados em explorar o povo. Mas, agora, chegamos ao ponto em que não há
mais tempo a perder. Compreendei isto, por favor. Não dispomos de tempo para
efetuar gradualmente tal transformação. Os intelectuais de todo o mundo estão reconhecendo que o
homem se acha à beira de um abismo, na iminência de destruir a si próprio.
Nem religiões, nem deuses,
nem salvadores, nem mestres, nem as lengalengas dos gurus, poderão impedi-los. Dizem os intelectuais ser
necessário inventar uma nova droga,
uma 'pílula dourada' capaz de produzir uma completa transformação
química; e os cientistas provavelmente descobrirão esta droga. Não
sei se estais bem a par dessas coisas. Ora conquanto o organismo físico seja um produto bioquímico, pode uma droga, uma superdroga fazer-vos amar,
tornar-vos bondosos, generosos, delicados, não violentos? Não o creio; nenhum
preparado químico pode fazer os homens amarem-se uns aos
outros. O amor não
é um produto do pensamento; também não é cultivável, como a flor que
cultivamos em nosso jardim. O amor não pode ser comprado numa drogaria, e o
amor é a única coisa que poderá salvar o homem - e não os artifícios das
religiões, nem seus ritos,
nem todos os exércitos do mundo. Podemos fugir, assistindo a concertos, visitando museus,
entregando-nos a divertimentos de toda ordem - debalde! - porque o homem
se acha hoje em dia em presença de um tremendo problema: se tem a
possibilidade de transformar-se radicalmente, de efetuar uma total mutação de sua consciência, não amanhã, nem daqui a alguns anos, mas agora!
Eis o problema principal: se o homem, em qualquer país que viva, com todas as suas belezas
naturais, é capaz de operar uma mutação radical em seu interior,
imediatamente. E não podeis resolvê-lo com vossas crenças, vossas ideologias, vossos deuses, salvadores, sacerdotes e rituais. Essas coisas já não tem o menor significado.
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29)JKEOAC). Podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais
distante, o "supremo princípio",
o maior ideal, e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito
perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto — pois nós
somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo.
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30)JKEOAC). Meditação é libertar a mente de toda desonestidade.
O pensamento gera desonestidade. O pensamento, no seu esforço
para ser honesto, é comparativo e, portanto, desonesto. (…) Meditação é o
movimento dessa honestidade no silêncio
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31)JKEOAC). Estou apenas a ser como um espelho da vossa vida, no qual podeis ver-vos como
sois. Depois, podeis deitar fora o espelho; o espelho não é importante.
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32)JKEOAC). Falamos da vida, e não de ideias ou teorias, de práticas ou de técnicas. Falamos para que olhe esta vida total, que é também a sua vida, para que
lhe dê atenção. Isso significa que não pode desperdiçá-la. Tem pouquíssimo
tempo para viver, talvez dez, talvez cinquenta anos. Não perca esse tempo.
Olhe a sua vida, dê tudo para compreender realmente a essência do que aqui
vos foi apresentado.
Jiddu Krishnamurti.
|
Compilado e comentado por:
Edimilson
Santos Silva Movér
Vitória da
Conquista, 05/08/2017
Atualizado em
agosto de 2018
e em dezembro de 2020
moversol@yahoo.com.br
O ensaio é real!
ResponderExcluirTudo se resolverá quando se tem a vontade de mudanças.
E essa mudança começa por nos mesmos!